quarta-feira, 22 de abril de 2015

OXUMARÉ - Parte II

O MISTÉRIO "SERPENTE DO ARCO-ÍRIS" 
A serpente como símbolo encerra em si tantos mistérios da natureza que não há como esgotá-los. Poucos animais desfrutam de uma simbologia tão extensa e rica como ela, pois no sentido mítico, no esotérico e no psicológico, praticamente todas as suas características representam algo: a troca de pele todo ano, a língua ameaçadora, o movimento sinuoso, a capacidade de hipnotizar pequenos animais, envolvê-los com seu corpo e matá-los, seu veneno mortal, sua capacidade de sobreviver em diferentes meios (na terra, na água, nas praias, montanhas, desertos e florestas). É um animal ctoniano (subterrâneo ou infernal) e misterioso; pode significar um(a) rival ou instruir os homens nos mistérios divinos.

O símbolo religioso Arco-Íris divino era cultuado pelos antigos magos caldeus, que o receberam como herança religiosa da antiga civilização veda, que o recebera de outra civilização ainda mais antiga. O culto à serpente é imemorial e aparece em diversos povos, como egípcios, gregos, romanos, daometanos, bantos e muitos outros. No passado remoto, ela era símbolo de cura e não de morte. No Ocidente, esse animal é símbolo da malícia e da traição e dos conteúdos do inconsciente, na linguagem psicológica. Os romanos veneravam o destino, sob a forma de uma serpente. Na tradição Oriental, a serpente é apontada como prudência e sabedoria, é associada à sexualidade e representa a energia kundalini, os sábios e os iniciados. Os hebreus consideravam as serpentes as guardiãs do templo e em sua mitologia arcaica elas eram os Serafins. No zodíaco chinês é o sexto signo. No Egito, os faraós, nos rituais especiais e em comemorações religiosas, ostentavam o símbolo sagrado "uraeus", um tipo de coroa de ouro com uma serpente naja na parte frontal, símbolo da iniciação e da sabedoria oculta.

Cleópatra, a rainha do Egito, era sacerdotisa do culto à serpente e todos os seus pertences e adornos tinham formato de cobras e similares.Helena Blavatsky, ao fazer referência aos pais da astronomia mística e da cronologia, fala de Nârada ou Pesh-Hum (mensageiro), um antigo Rishi védico, executor e confidente dos decretos universais de Karma e Adi-Buda. É o poder inteligente que impele e dirige os ciclos; é o ajustador do carma, numa escala geral, com a finalidade de dirigir o progresso e a evolução universal. Ele é um dos poucos que visitam as regiões inferiores e aprendeu tudo o que sabe com a Serpente de Sete Cabeças.Cita, também, as criptas subterrâneas de Tebas, no Egito, que se estendiam para o deserto da Líbia, e eram conhecidas como as catacumbas ou passagens da Serpente. Ali eram realizados os sagrados mistérios do Kuklus-Anagkês (ciclo inevitável) ou 'círculo da necessidade', destino inexorável de toda alma depois da morte corporal.
O culto à serpente se intensificou no antigo Dahomei, na África ocidental, e lá, Dã, a serpente sagrada, transformou-se no maior símbolo religioso do povo da região. Os yorubás chamaram essa mesma divindade de Oxumaré ou a Cobra Arco-Íris. Segundo o livro O Código de Umbanda, de Rubens Saraceni, Pai Oxumaré, há muitos milênios, regeu uma religião fundamentada nos sete sentidos da vida (as sete irradiações divinas) ou as sete cores do arco-íris, que era de grande alcance. O símbolo sagrado "serpente do arco-íris" "pertenceu à era onde a religiosidade era transmitida pelos magos da natureza. Nas sete cores do arco-íris eles sintetizavam os sete sentidos da vida, em suas inúmeras formas de manifestação: a Fé, o Amor, o Conhecimento, a Razão, a Lei, o Saber e a Geração. A "serpente do arco-íris" tem como significado "a união de todos os sentidos num só, que é o princípio luminoso que preside a evolução da espécie humana", o encontro dos sentidos humano e divino. (Rubens Saraceni, Os Templos de Cristais).

"Um Orixá natural envia para a dimensão humana um de seus tronos ou 'intermediários', onde ele encarna, fundamenta todo um conhecimento religioso, acolhe seus afins que ali estão encarnando ou reencarnando e cria todo um culto de adoração a um orixá natural. Com todos os orixás as coisas aconteceram do mesmo jeito: cada uma das linhas de força enviou, no seu devido tempo, seus intermediários e estes iniciaram todo um culto religioso afinizado com o orixá regente natural de sua linha de origem." ..."Quando uma divindade se 'humaniza', tem início uma religião ou um novo culto religioso". (Rubens Saraceni, O Código de Umbanda).

Não pretendemos fazer referência à todas as culturas que tiveram ou têm na serpente um dos seus mitos ou um de seus mistérios, pois a lista seria muito longa e desnecessária. Apenas indicamos alguns exemplos, para ilustrar a presença do orixá Oxumaré em diversas culturas, desde tempos remotos, mesmo que com outros nomes.


CABOCLOS ARCO-ÍRIS E EXUS SETE COBRAS


No ritual sagrado umbandista, o divino Pai Oxumaré atua nas sete irradiações como elemento renovador, regente do mistério "Arco-Íris" e tem toda uma hierarquia positiva de caboclos e caboclas Arco-Íris. Eles se manifestam na Umbanda através do mistério da Fé, pois todo caboclo Arco-Íris é um semeador da fé. O orixá Oxumaré tem, ainda, uma hierarquia mista, que em seu aspecto positivo forma a linha de caboclos Sete Cobras, que agem em todas as irradiações positivas e em seus pólos ativos. Em seu aspecto negativo, essa hierarquia mista forma a linha dos Exus Sete Cobras, que atuam em todas as irradiações cósmicas; eles são aspectos negativos do mistério Sete Cobras, mas são regidos pelos outros orixás. 

"Em verdade não existe um Exu Cobra, mas tão somente um aspecto negativo de Oxumaré que, junto com os aspectos cósmicos dos outros orixás, no Ritual de Umbanda Sagrada, foram todos reunidos sob o nome de "Exu". ..."Os orixás apenas sintetizaram numa só divindade cósmica (Exu) todos os seus aspectos negativos." (Rubens Saraceni - Orixás-Teogonia de Umbanda).


MISTÉRIO OXUMARÉ - "SETE COBRAS"


1) ASPECTOS POSITIVOS OU AMPARADORES REGÊNCIA 2) ASPECTOS NEGATIVOS OU PUNIDORES


1º SERPENTE BRANCA- OXALÁ 1ºCOBRA NEGRA-OMULU

2ºSERPENTE CORAL- XANGÔ 2° COBRA RUBRA- (KALI YÊ)EGUNITÁ 

3°SERPENTE AZUL-YEMANJÁ 3ºCOBRA RAJADA- IANSà

4ºSERPENTE DOURADA-OXUM 4ºCOBRA CINZENTA- OBÁ 

5ºSERPENTE VERDE- OXÓSSI 5º COBRA DE DUAS CABEÇAS -NANÃ BURUQUÊ

6ºSERPENTE VERMELHA-OGUM 6º COBRA ALADA-OÍA 

7ºSERPENTE ROXA -OBALUAIYÊ 7º SETE COBRAS- OXUMARÉ


Os mistérios positivos são regidos por orixás universais e assumem cores irradiantes. Os mistérios negativos assumem cores absorventes e são regidos pelos orixás cósmicos. Os temos "serpente" e "cobra" simbolizam as qualidades afins com os campos vibratórios dos orixá e não a conotação de réptil.

No livro Código de Umbanda, mestre Rubens Saraceni escreve que "existe toda uma dimensão natural reservada às 'serpentes'. Mas, elas são criaturas encantadas que não comem e se alimentam das energias elementais ali circulantes. Elas não atacam quem entra na dimensão onde vivem. Muito pelo contrário, fogem de quem estiver vibrando ódio ou rancor e aproximam-se, felizes, de quem estiver vibrando fé e amor."Essa dimensão atende uma das vontades do Divino Criador e é dela que saem as 'almas' que animam os corpos físicos das serpentes que nascem no plano material, que a ela retornam assim que morrem, tomando uma direção diferente da que tomam os espíritos, inclusive em nível evolutivo, pois, após uma 'alma' ofídica fortalecer seu corpo energético no plano material, é enviada a outro orbe planetário, onde, num estágio posterior, servirá à criação divina que lá existe". Conforme as obras do citado mestre Rubens Saraceni, os mistérios da criação encerrados no arco-íris, com suas sete cores, estimuladores da religiosidade nos seres humanos, nunca foram esgotados no plano material.

Justamente por isso, esses mistérios e esse símbolo foram absorvidos pelos regentes planetários e são irradiados pelo Setenário Sagrado, através das religiões naturais. Com suas cores, os sagrados orixás, sintetizam o Arco-Íris sagrado.


A COBRA CORAL

Na Filosofia oculta, o espírito da vida e da imortalidade era simbolizado pela serpente mordendo a sua cauda, formando um círculo (uroborus).

A serpente que morde o próprio rabo é a cobra-coral, multicolorida, venenosíssima e devoradora de outros ofídios. Esse símbolo, que se perdeu no tempo, mas ainda é encontrado no esoterismo mágico,
pertenceu aos já citados magos que receberam há muitos milênios a missão de revitalizar no plano material a tradição do Arco-Íris Sagrado.

No decorrer das eras religiosas, os símbolos sagrados vão sendo substituídos por outros, mas não
perdem suas funções. Seus aspectos positivos e negativos permanecem adormecidos e despertam de tempos em tempos, para recolher espíritos retardatários que permaneceram no ciclo reencarnatório. Esse símbolo mágico, a cobra-coral, foi trazido ao plano material há muitas eras e jamais foi recolhido à faixa celestial.

Na Umbanda, está representado pela hierarquia espiritual de caboclos e exus Cobra-Coral. Dizem os magos "que quando a Lei solta uma de suas serpentes mágicas, nem a própria Lei consegue recolhê-la sem antes matá-la. Como a Lei não mata nada, muito menos um de seus mistérios mágicos por excelência, a Coral da Lei continua ativa.

"Afinal, a Cobra-Coral da Lei é a única serpente (simbólica) que consegue anular a grande Cobra Negra sem ter de matá-la: apenas a devora e incorpora seu veneno nas suas listas negras, tornando-se, assim, ainda mais poderosa. "Todo aquele que tiver uma 'coral' à sua direita está sendo amparado pela Lei. E quem a tiver à sua esquerda, pela Lei está sendo vigiado". (Rubens Saraceni, O Código de Umbanda).


A SERPENTE DOURADA

Em uma era fora do alcance da História, foi aberto ao conhecimento humano o símbolo Serpente Dourada e, também, jamais foi recolhido. Ela simboliza o saber puro e é a única que consegue eliminar a Serpente Negra, a ignorância, sem sofrer qualquer contaminação."Todos interpretaram, no decorrer dos séculos, que os egípcios adoravam a serpente. Eis um símbolo revelado agora aos falsos sábios e cegos magos, com a permissão dos vinte e um guardiões da Lei.

A Deusa Dourada, adorada no Egito, nada mais é do que o saber, o conhecimento sobre os mistérios. O saber era e é para os magos da luz como a Serpente Dourada: a quem ela pica, ou dá a vida ou mata por envenenamento."

Eis o seu mistério. Conhecimento: 'Quem conhece não teme e quem sabe ensina", no ascendente. No descendente, diz: 'O saber pode levar à loucura.' ... Quando Eva foi tentada pela serpente no paraíso, deu a vida a um povo. Foi por amor que ela foi picada.

Os sábios puseram uma maçã no meio para simbolizá-la. Aquele que for tentado pelo amor aos símbolos sagrados viverá. Os que forem tentados pelo ódio à Deusa Dourada, à sabedoria, não frutificarão. Resta a cada um ver se será picado para viver ou para morrer." (Rubens Saraceni, Hash Meir, O Guardião dos Sete Portais de Luz).Esse símbolo serpente dourada ou deusa dourada "predominou até a vinda de Akenaton, faraó egípcio, que a substituiu pelo saber do amor e lançou as sementes que germinariam com a vinda do divino mestre Jesus Cristo à Terra". (R. Saraceni, Os Templos de Cristais). Mas, o símbolo permaneceu. O deus Aton, o Divino Criador, Senhor do Céu e da Terra, tinha por símbolo um disco solar, com uma serpente enrolada ao seu redor, portando no pescoço a "chave da vida". A serpente, então, estava ligada à idéia das metamorfoses incessantes pelas quais o homem profano passa e que o iniciado controla.


AS SERPENTES NAS ESFERAS CÓSMICAS
O magnetismo de Oxumaré, ao atuar na vida do ser, "obedece a uma irradiação semelhante às ondas de rádio, que são sinuosas como o rastejar das serpentes. É do tipo de irradiação magnética de Oxumaré que adveio o sincretismo ou identificação com as serpentes. ... Ele rege, com seu magnetismo ondeante, uma dimensão toda ocupada por criaturas que se movimentam como nós vemos as nossas serpentes no solo: sempre ondeando!

"Uma onda fatoral divina é tão completa em si, que rege todas as coisas originadas em sua qualidade; influi sobre a formação de tudo o que tem nela sua origem; alcança tudo e todos em todos os quadrantes do universo, ou da tela plana, que demonstra o lugar ocupado por cada divindade e está presente na vida de todos os seres." (Rubens Saraceni, Gênese Divina de Umbanda Sagrada).

A parte positiva de um fator rege sobre os seres e a razão e a parte negativa rege sobre os instintos e sobre as criaturas que normalmente chamamos de animais irracionais. Por isso, cada orixá tem os seus animais, que em verdade são criaturas instintivas geradas por Deus em suas ondas fatorais."As energias circulantes nas esferas cósmicas (trevas ou inferno), são essencialmente 'humanas', e por isso estimulam os sentidos fazendo com que o latejar íntimo, e até reprimido ou ocultado, vá se dimensionando de tal maneira que em pouco tempo o espírito, antes com sua aparência humana, alterado pelo emocional sobrecarregado, exploda nas mais desumanas aparências. Onde o ser é o que aparenta ser, as desigualdades se acentuam e a moral nivela a todos por baixo. Vítimas e algozes são prisioneiros do meio onde a lei automaticamente os reuniu e aprisionou. ... Desta prisão só sairão quando esgotarem seus acúmulos de energias negativas, anularem seus emocionais, descarregarem em meio aos mais terríveis tormentos seus sentimentos íntimos viciados e viciadores, e o principal: voltarem suas mentes e sentimentos para Deus e para o alto.

Deus é a lei, e foi a lei que ali reteve o ser em desequilíbrio que, devido ao seu magnetismo negativo e seus sentimentos viciados, para a luz não poderia ser conduzido, uma vez que nela não se sustentaria."Nas esferas cósmicas espíritos humanos podem ser aprisionados em corpos plasmados, regredidos à aparência de animais. É comum encontramos cães, serpentes etc ... nos sombrios domínios da lei nas trevas. ... Tais aparências plasmadas ... são abrigos da lei que o auxiliarão até que, apto a retornar ao convívio com espíritos equilibrados, venha a estar."Deus, bondade pura, não castiga ninguém, apenas recolhe na aparência plasmada de uma serpente rastejante os espíritos que, tendo membros, foram para seus semelhantes muito mais perigosos que as mais venenosas serpentes". (Rubens Saraceni A Tradição Comenta a Evolução)


Arroboboi Oxumaré !!!

Fonte : livros citados e Oxumaré-Lurdes de Campos Vieira -Ed.Madras

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