domingo, 22 de abril de 2018

SENHORA DAS MIL FACES DA UMBANDA!


Retirado de Jornal de Umbanda.
Escrever sobre a Umbanda não é tarefa para leigos, repórteres ou curiosos. Estes, por falta de percepção, sensibilidade ou de conhecimento enxergam a Umbanda como um emaranhado confuso de práticas oriundas das mais diversas religiões.
Jamais pararam para se perguntar por que um culto, por eles mesmos tratado como fetichista, pode atrair milhões de pessoas. Diriam até que seria pelo aspecto etnocultural das mais diversas classes socioculturais.
Que mistério há por trás desses ritos que consideram confusos e destituídos de bom senso? Por que tantos a atacam?
É preciso conhecer seus aspectos fenomênicos, magísticos, mediúnicos, ritualísticos, doutrinários e filosóficos, nas suas causas.
É preciso também que se tenha um vivencial do dia a dia de seus Terreiros e Templos. Raros, raríssimos são os que têm essa experiência.
Enquanto a Umbanda se abre em um leque de mil cores, muitos se interessam apenas pela qual se afinizam, certos de que é a melhor.
Outros pretendem impor um determinado ritual porque é aquele que lhes trás mais benefícios, principalmente financeiros. Quem quiser, apenas de longe, saber o que a Senhora das Mil Faces representa para o povo brasileiro, basta ver o que acontece nas praias na passagem do ano.
Lá se encontram ricos, pobres, brancos, negros, amarelos, vermelhos, mestiços, todos juntos, acendendo suas velas e ofertando flores a Iemanjá, pedindo que o ano lhes seja propício. Esta manifestação colossal é peculiar, é própria da fé ou da mística umbandista.
Muitos se aproximam da Umbanda, pois pressentem sua força, sua magia, seu poder de transformação.
A Umbanda aceita e respeita as necessidades de cada grupo naquilo que os faz sentirem-se unidos ao Sagrado.
Por isso Ela parece tão variada em suas manifestações, pois cada unidade-terreiro exprime com fidelidade as necessidades daqueles que ali acorrem. Para muitos, esta maleabilidade é confundida como uma mistura desconexa, mas na verdade apenas traduz, em seus aspectos mais profundos, um motivo: atingir a síntese do conhecimento humano, lembrar a todos que como Caboclo, Preto
Velho e Criança.
Também somos espíritos eternos e imortais e que cada existência nos serve de aprendizado e aperfeiçoamento para vidas futuras, caminhando rumo à nossa realidade espiritual. Esta é a Umbanda de Todos Nós. Por isso repito: escrever sobre a Umbanda não é tarefa para leigos, repórteres ou curiosos. O que nós umbandistas oferecemos para que os leigos e os nossos detratores nos ataquem diretamente ou à socapa?
Dentre outras coisas, oferecemos nossa vaidade explícita de diversas maneiras: com roupas extravagantes, com dezenas de guias no pescoço, por exemplo. Muitos cantam aos quatro ventos que seguem os ensinamentos de Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Para estes ficam as perguntas:
– Por que usar roupas extravagantes se eles diziam que a roupa devia ser branca?
– Por que tantas guias se eles diziam que uma única guia era suficiente?
Então, o que vemos é um discurso diferente da prática para alimentar a vaidade, câncer que corrói a maior parte da
humanidade.
A ânsia pelo poder temporal dentro dos Terreiros e organizações umbandistas mostra que a maioria ainda não conseguiu aplacar dentro do peito o egoísmo.
As futricas e a maldade são alguns dos pratos do dia nos Terreiros, onde deveríamos estar apenas para praticar a caridade e evoluir espiritualmente.
Oferecemos farta munição para os nossos detratores e depois nos queixamos dos ataques. Não seria hora de rever nossos conceitos e ações para que a Senhora das Mil Faces possa continuar a nos prodigalizar com seu manto de amor caridade?

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